25 fevereiro 2012
17 fevereiro 2012
OS ELEITOS
Já se pode escolher o sexo dos bebês e selecionar embriões sem
distúrbios graves. Daqui a algum tempo será viável até alterar as suas
características genéticas. Para o bem ou para o mal, a humanidade está
se tornando capaz de decidir como serão os novos habitantes do planeta.
Daqui para a frente a vontade de ter um menino ou uma menina não é
mais um mero desejo. É uma ordem. Em setembro, a clínica americana
Genetics & IVF Institute anunciou ter conseguido separar os
espermatozóides com o cromossomo X – que geram garotas – dos que
carregam o Y e fazem nascer rapazes. Uma fecundação artificial foi feita
apenas com os espermatozóides X. Aí, dos quatorze casais que haviam
pedido bebês do sexo feminino, treze conseguiram. Agora a Genetics
promete, em alguns meses, tornar o método acessível a todo papai e toda
mamãe ansiosos por burlar a seleção natural. Inclusive famílias
brasileiras. Embora a empresa não divulgue quanto vai cobrar pela
satisfação paterna, sabe-se que, nos testes realizados, cada par de pais
desembolsou 2 500 dólares.
Isso é bom para a humanidade? “As novidades chegam tão depressa que
não temos tempo de digeri-las”, disse à SUPER o biólogo americano Lee
Silver, da Universidade de Princeton. Um dos mais respeitados
microbiologistas do mundo, ele é autor de um livro importante sobre o
assunto, Remaking Eden (algo como “refazendo o Éden”, ainda não
traduzido para o português), no qual analisa como os novos conhecimentos
da Biologia “poderão transformar a família americana”. Silver explica
que a escolha do sexo é apenas o começo, pois, não demora muito, os
médicos vão aprender a mexer diretamente nos genes dos embriões e,
assim, alterar os seus traços hereditários. Os pais vão poder decidir se
querem que seus filhos nasçam mais resistentes a infecções, mais
bonitos ou mais inteligentes. “Esse tipo de manipulação genética
estará disponível dentro de uns vinte anos”, avalia outro craque da
microbiologia, o americano Gregory Stock, da Universidade da Califórnia.
Nas próximas páginas você vai entender o que já está sendo feito, o que
vai ser possível fazer e os profundos dilemas éticos envolvidos nessas
descobertas.
O truque das cores
Por meio de uma técnica chamada FISH é possível colorir os
espermatozóides e diferenciar os que vão gerar menino ou menina. Nesta
imagem, que é uma simulação do exame, os espermatozóides foram coloridos
no computador
Pra valer
Esta é a imagem verdadeira, obtida durante a experiência feita este
ano pelo Genetics & IVF Institute. As “bolotas” que apresentam o
brilho cor-de-rosa são espermatozóides contendo o cromossomo X e, por
isso, vão gerar um feto do sexo feminino
Para escolher o sexo, basta filtrar o sêmen
Em 1993, a clínica americana Genetics & IVF Institute começou a
recrutar casais que queriam escolher o sexo do seu bebê. Todos os
inscritos estavam na faixa dos 30 anos e tinham interesse em ter uma
menina. Dos catorze que fizeram o teste, só um não conseguiu o que
queria, nascendo um garoto. Já se sabia, desde o início, que havia essa
possibilidade de falha, pois a eficiência da técnica não é de 100%. A
clínica americana chegou bem perto disso, com 92,9% de sucesso.
A margem de erro existe porque a separação dos espermatozóides
depende de uma diferença muito sutil entre eles: dentro dos que carregam
o cromossomo X, há 2,8% mais de DNA, em comparação com os que carregam o
Y. É por trabalhar com uma disparidade tão pequena que a técnica nem
sempre acerta. E a falha teria sido ainda maior se, em vez de meninas, a
Genetics tentasse escolher meninos, pois é mais difícil separar os
espermatozóides que têm uma quantidade muito reduzida de DNA do que
aqueles que têm excesso.
Vacas e cavalos foram os pioneiros
A técnica de separação dos espermatozóides já é conhecida há alguns
anos. Ela foi criada por cientistas do Ministério de Agricultura
americano para fazer a seleção de sexo em sêmen de bois e cavalos.
Nesses animais, a quantidade de DNA varia mais do espermatozóide X para o
Y do que nos humanos. Portanto, a separação é mais fácil. Os cientistas
da clínica americana conseguiram aperfeiçoar essa técnica. Mas, por
motivos comerciais, eles não revelam qual foi a alteração que levou à
possibilidade de separar espermatozóides humanos com eficiência.
Dentro de alguns meses, depois de ajustes na técnica, os futuros
papais interessados, em qualquer canto do mundo, terão acesso ao
serviço. “Basta contatar um médico que tenha convênio com o Genetics
& IVF Institute”, diz Suzanne Seitz, assessora de imprensa da
empresa. O esperma terá de ser congelado e enviado, por um simples
malote, para Fairfax, no Estado da Virgínia. Feita a filtragem, ele toma
o caminho de volta. O pacote conterá um filho virtual de sexo
pré-definido que dará origem a uma criança de verdade.
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