ESTUDO
AJUDA A ENTENDER AÇÃO TERAPÊUTICA DE CÉLULAS-TRONCO
DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE |
DIVERSOS
ESTUDOS CIENTÍFICOS MOSTRAM QUE O TRATAMENTO COM CÉLULAS-TRONCO ADULTAS OBTIDAS
DA MEDULA ÓSSEA E DO TECIDO ADIPOSO PODE, MUITAS VEZES, ATENUAR OU MESMO
REVERTER SINAIS E SINTOMAS DE ALGUMAS DOENÇAS CRÔNICAS, INCLUINDO AS DISTROFIAS
MUSCULARES. NO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS (ICB) DA USP, UMA PESQUISA
REALIZADA PELO FISIOTERAPEUTA CARLOS HERMANO DA JUSTA PINHEIRO APRESENTA
RESULTADOS INÉDITOS QUE AJUDAM A COMPREENDER COMO OCORRE ESSA MELHORA NO QUADRO
CLÍNICO.
PINHEIRO
ESTUDOU CAMUNDONGOS GENETICAMENTE MODIFICADOS PARA APRESENTAREM DISTROFIA
MUSCULAR DE DUCHENNE, DOENÇA GENÉTICA CAUSADA PELA DEFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO DA
DISTROFINA, PROTEÍNA MUITO IMPORTANTE PARA A CÉLULA MUSCULAR ESQUELÉTICA, POIS
MANTÊM A INTEGRIDADE DA MEMBRANA CELULAR. “NOSSO ESTUDO CONSTATOU QUE A
APLICAÇÃO DE CÉLULA-TRONCO MESENQUIMAL [UM TIPO
DE CÉLULA-TRONCO ADULTA] INFLUENCIA DIRETAMENTE NO MECANISMO QUE
REGE A INFLAMAÇÃO NO MÚSCULO COM DISTROFIA, DIMINUINDO A MESMA. E ISTO PARECE
ESTAR MAIS ASSOCIADO À MELHORA NO QUADRO CLÍNICO DO QUE A DIFERENCIAÇÃO DAS
CÉLULAS-TRONCO EM CÉLULAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS”, REVELA O PESQUISADOR.
PACIENTES
COM DISTROFIA MUSCULAR SÃO SUSCETÍVEIS A LESÕES INDUZIDAS POR ATIVIDADE
CONTRÁTIL. ELES NASCEM SEM NENHUMA LESÃO APARENTE. À MEDIDA QUE VÃO SE
DESENVOLVENDO, A MUSCULATURA COMEÇA A DEGENERAR-SE E VAI SENDO PREENCHIDA POR
TECIDO FIBROSO (FIBROSE) COM CONSEQUENTE PERDA NA FUNÇÃO MUSCULAR. “O QUADRO
INFLAMATÓRIO CRÔNICO NO MÚSCULO DISTRÓFICO TEM EFEITO NEGATIVO PARA A MASSA
MUSCULAR LEVANDO À ATROFIA. É COMO SE O MÚSCULO ESQUELÉTICO ENVELHECESSE
PRECOCEMENTE DEVIDO A SUCESSIVAS TENTATIVAS DE REPARO DO TECIDO DANIFICADO”,
CONTA. “DENTRE AS ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS PROMISSORAS PARA DISTROFIA ESTÁ O
REJUVENESCIMENTO DO MICROAMBIENTE MUSCULAR POR MEIO DA TERAPIA GÊNICA PARA
AUMENTO DA FORMAÇÃO DE NOVOS VASOS SANGUÍNEOS NO MÚSCULO DISTRÓFICO”, EXPLICA.
TERAPIA GÊNICA É A INSERÇÃO DE GENES NO TECIDO VISANDO SUPRIR DEFICIÊNCIAS.
NA PESQUISA DE PINHEIRO,
FOI OBSERVADO QUE OS ANIMAIS TRATADOS COM CÉLULAS-TRONCO APRESENTARAM AUMENTO
DA FORMAÇÃO DE NOVOS VASOS SANGUÍNEOS, REDUÇÃO NA FORMAÇÃO DE TECIDO FIBROSO,
DIMINUIÇÃO DA
DA
INFLAMAÇÃO MUSCULAR E PRESERVAÇÃO DA MASSA E DA FORÇA MUSCULAR.
SEGUNDO
O FISIOTERAPEUTA, A GRANDE PERGUNTA ENVOLVENDO ESTA QUESTÃO É: “AS
CÉLULAS-TRONCO INJETADAS NO MÚSCULO ESQUELÉTICO SE DIFERENCIAM EM CÉLULAS
MUSCULARES ESQUELÉTICAS OU EXERCERIAM TAMBÉM ALGUMA OUTRA FUNÇÃO LOCAL NO
TECIDO MUSCULAR DISTRÓFICO?”. DE ACORDO COM O FISIOTERAPEUTA, MUITOS ESTUDOS JÁ
DEMONSTRARAM QUE AS CÉLULAS-TRONCO ADULTAS RESTAURAM A EXPRESSÃO DE DISTROFINA EM
MODELOS EXPERIMENTAIS DE DISTROFIA MUSCULAR. “PORÉM, O MECANISMO QUE LEVA À
MELHORA CLÍNICA PODERIA ENVOLVER OUTROS EFEITOS DAS CÉLULAS-TRONCO ALÉM DA
FORMAÇÃO DE NOVAS FIBRAS MUSCULARES SEM A DEFICIÊNCIA QUE RESULTA NA
DISTROFIA”, CONTEXTUALIZA.
TRATAMENTO
COM CÉLULAS-TRONCO
A
MÉDIA DE VIDA DE CAMUNDONGOS GIRA EM TORNO DE DOIS ANOS. OS QUE FORAM USADOS NA
PESQUISA, CAMUNDONGOS MDX, APRESENTAVAM GRANDE COMPROMETIMENTO DA PRODUÇÃO DE
FORÇA MUSCULAR ENTRE 6 E 12 MESES DE VIDA. “FOI NESSE PERÍODO QUE INVESTIGAMOS
O EFEITO DO TRATAMENTO COM CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS NOS ANIMAIS
DISTRÓFICOS”. PINHEIRO UTILIZOU UM SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO MUSCULAR
(PRODUÇÃO DE FORÇA MUSCULAR DOS ANIMAIS) ONDE A INERVAÇÃO E A CIRCULAÇÃO
SANGUÍNEA ESTÃO PRESERVADAS.
O
PESQUISADOR TRABALHOU COM CÉLULAS-TRONCO OBTIDAS DO TECIDO ADIPOSO DE OUTROS
CAMUNDONGOS SEM DISTROFIA, QUE FORAM ISOLADAS E CULTIVADAS. “TRABALHAMOS COM
CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS, POIS ELAS PODEM SER ISOLADAS DE TECIDOS
ESPECÍFICOS COMO MEDULA ÓSSEA, TECIDO DO CORDÃO UMBILICAL E TECIDO ADIPOSO.
NESTE ÚLTIMO CASO É FÁCIL OBTER MATERIAL PROVENIENTE DE LIPOASPIRAÇÃO.”
PINHEIRO
REALIZOU VÁRIOS EXPERIMENTOS, TRABALHANDO COM GRUPOS QUE VARIARAM DE 8 A 12
ANIMAIS. FORAM APLICADAS 4 INJEÇÕES DE CÉLULAS-TRONCO, UMA VEZ POR SEMANA,
DURANTE 4 SEMANAS. AS APLICAÇÕES FORAM REALIZADAS DENTRO DO MÚSCULO
GASTROCNÊMIO, QUE FICA NA REGIÃO CONHECIDA COMO “BATATA DA PERNA”. EM HUMANOS,
ESSE MÚSCULO É IMPORTANTE PARA A POSTURA EM PÉ E PARA MARCHA; NOS ANIMAIS, PARA
O IMPULSO DA PASSADA. NA OUTRA PATA DOS CAMUNDONGOS, FOI APLICADO PLACEBO. APÓS
UMA SEMANA DO FINAL DO EXPERIMENTO, O PESQUISADOR AVALIOU A FUNÇÃO CONTRÁTIL DO
MÚSCULO ESQUELÉTICO QUE RECEBEU AS INJEÇÕES DE CÉLULAS-TRONCO, ASSIM COMO DO
MÚSCULO DA OUTRA PATA (QUE NÃO RECEBEU AS CÉLULAS) E AS COMPAROU COM ANIMAIS SEM
DISTROFIA MUSCULAR.
“NOS
ANIMAIS QUE RECEBERAM INJEÇÕES DE CÉLULAS-TRONCO FOI CONSTATADO QUE A PERDA DA
FUNÇÃO MUSCULAR ERA INSIGNIFICANTE QUANDO COMPARADO AOS ANIMAIS SEM DISTROFIA.
DETECTAMOS UM AUMENTO DO CONTEÚDO DE MARCADORES DE REGENERAÇÃO MUSCULAR, INDICANDO
FORMAÇÃO DE TECIDO MUSCULAR NOVO. ENTRETANTO, ESSE AUMENTO FOI BEM DISCRETO
DIANTE DA GRANDE MELHORA OBSERVADA NA FUNÇÃO MUSCULAR, SUGERINDO O ENVOLVIMENTO
DE OUTROS MECANISMOS”, REVELA O PESQUISADOR. “O AUMENTO DESSES MARCADORES
PODERIA TER SIDO OCASIONADO POR DUAS RAZÕES: AS CÉLULAS-TRONCO APLICADAS SE
TRANSFORMARAM EM CÉLULAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS, OU ELAS ACABARAM POR
ESTIMULAR A REGENERAÇÃO ESPONTÂNEA DO TECIDO MUSCULAR. ENTÃO RESOLVEMOS
INVESTIGAR ESSES ACHADOS”, RELATA.
EFEITO
NA INFLAMAÇÃO
NESTA INVESTIGAÇÃO, PINHEIRO CONSTATOU QUE, NOS MÚSCULOS TRATADOS COM CÉLULAS-TRONCO, ALGUNS MARCADORES INFLAMATÓRIOS, COMO O CONTEÚDO DE CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS (COMO TNF-ALFA E INTERLEUCINA-6) E AS ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO (EROS), ESTAVAM DIMINUÍDOS. TAMBÉM HOUVE AUMENTO DE CITOCINAS ANTI-INFLAMATÓRIAS (INTERLEUCINAS 4 E 10). O FISIOTERAPEUTA CONSTATOU AINDA MAIOR CONTEÚDO DE MACRÓFAGOS M1, QUE “LIMPAM” A ÁREA INFLAMADA E SOLTAM SUBSTÂNCIAS QUE VÃO AJUDAR A REPARAR O TECIDO LESADO. “ESSAS CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE SÃO IMPORTANTÍSSIMAS PARA A REGENERAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO, POIS ACELERAM ESSE PROCESSO”, COMENTA. HOUVE TAMBÉM UMA REDUÇÃO NO CONTEÚDO DE TGFB1 (FATOR DE CRESCIMENTO TRANSFORMANTE B1), QUE SINALIZA PARA OS FIBROBLASTOS PROLIFERAREM E ACELERAREM A FORMAÇÃO DO PROCESSO FIBRÓTICO.
AO
MESMO TEMPO, FOI VERIFICADO UM AUMENTO DO CONTEÚDO DO FATOR DE CRESCIMENTO
ENDOTELIAL VASCULAR (VEGF), QUE, AO SER LIBERADO NO MÚSCULO, ESTIMULA O
CRESCIMENTO DE NOVOS VASOS SANGUÍNEOS. “NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE, O
EFEITO TERAPÊUTICO DO AUMENTO DE VEGF NO MÚSCULO ESQUELÉTICO É BEM DEMONSTRADO
POR MEIO DA TERAPIA GÊNICA”, CONTA O FISIOTERAPEUTA. DE ACORDO COM O
PESQUISADOR, ESSES RESULTADOS PODEM AUXILIAR NA COMPREENSÃO DO EFEITO
TERAPÊUTICO DAS CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS.